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Opinião
Alzheimer, a assombração dos idosos
Ainda como terceira causa de ordem genética desta doença há a trissomia do
Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum cromossomo 21, frequente em pessoas com síndrome de Down.
Professor Titular pela UNESP Depois desta breve introdução, segue um resumo sobre informações importantes
Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia, para o conhecimento geral, e que certamente poderá auxiliar as pessoas a conhecerem
Acadêmico da ARLC melhor esta doença que está nos assombrando cada vez mais.
a.c.t@terra.com.br Importante saber:
1) 80 a 90% desta doença ocorre em pessoas com idade acima de 65 anos e é
conhecida por doença de Alzheimer senil; quase a totalidade destes casos se devem às
A doença de Alzheimer foi descoberta no início do século 20, precisamente causas adquiridas acima especificadas, e algo próximo de 5% à deficiência imune de
em 1906, e somente passou a representar preocupação médica e social quando células que fagocitam as proteínas tóxicas.
o contingente populacional composto por idosos começou a aumentar, elevando 2) 10 a 20% desta doença ocorre em pessoas com idade abaixo de 65 anos e é
também a frequência desta doença. Este aumento ocorreu inicialmente em países conhecida por doença de Alzheimer precoce; quase a totalidade destes casos se devem
do primeiro mundo a partir dos anos 60, alertando os médicos para esta doença, e às causas genéticas e cerca de 5% também se deve à deficiência imune.
nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, sua importância médica e Independentemente da idade, a doença de Alzheimer começa a ser percebida por
social tomou corpo a partir dos anos 90. Hoje se sabe que a doença de Alzheimer é a fases de alterações de comportamento e são classificadas em inicial, moderada, grave
mais comum das demências neuro degenerativas, e se deve ao acúmulo de proteínas e terminal, conforme se segue:
tóxicas no cérebro. Estas proteínas vão se depositando gradualmente ao longo de vinte - Fase inicial: se dá quando a pessoa tem alterações de visão de cores e de
anos, ou mais, no cérebro, interrompendo as transmissões de sinais biológicos entre profundidade, perda de memória, e momentos de incapacidade de localização espacial.
neurônios e dificultando comandos básicos como visão, comunicação e localização - Fase moderada: se dá na sequência da fase acima e se manifesta por dificuldades
espacial, entre outros. em falar ou de se expressar, de planejar, de criar, e se acentua com a insônia.
Por outro lado, a toxicidade do cérebro também se deve ao acúmulo dessas - Fase grave: ocorre ao longo de meses ou anos após a fase moderada e se
proteínas tóxicas entre os vasos sanguíneos que transportam oxigênio para os caracteriza por resistência e agressividade em aceitar tarefas comuns do dia-a-dia, por
neurônios, “espremendo-os” e impedindo a oxigenação ideal destas células. Portanto, exemplo, banho, diálogo e exercício físico, principalmente. Esta fase se acentua no
a diminuição de transmissão de sinais entre neurônios e o seu enfraquecimento momento que o doente passa a ter dependência para higiene pessoal e alimentação.
fisiológico por conta da baixa oxigenação é provavelmente a causa das diversas - Fase terminal: ocorre quando o doente se torna restrito ao leito, se recusa a falar
alterações patológicas que vão se somando nesta doença com o passar do tempo desde ou comunicar. Nesta fase o sistema imune se torna muito fraco principalmente por
seu início. conta da alimentação desregulada e da diminuição do comando sensorial orgânico,
Recentemente as pesquisas em neurobiologia estabeleceram três causas básicas. culminando com constantes infecções que são as causadoras principais de óbitos.
A primeira causa, portanto, a mais comum, atinge entre 80 e 90% das pessoas e Até o momento não há medicações curativas para esta doença, destacando-se que
é adquirida por hábitos não saudáveis (por exemplo: tabagismo) e situações a prevenção ainda é o melhor caminho e deve ocorrer antes da quarta década através
patológicas que causam lesões vasculares por longos períodos, por exemplo: de hábitos e alimentação saudáveis.
colesterol cronicamente elevado, doenças autoimunes, tromboses e diabetes não Este artigo foi redigido durante minha recente passagem pela Universidade
controladas, principalmente. A segunda causa é de origem constitucional da pessoa, de Cambridge, Inglaterra, onde esta doença está sendo estudada e discutida com
afeta 5 % dos casos de Alzheimer, e se deve à baixa imunidade crônica que atinge as profundidade. Uma das possíveis possibilidades que está sendo pesquisada aqui
células que fagocitam as proteínas tóxicas do cérebro. A terceira causa é de origem é a busca de drogas que possam limpar as proteínas tóxicas que afetam o cérebro,
genética e é responsável também entre 10 e 20% dos doentes de Alzheimer por impedindo a progressão da doença.
diminuição da capacidade da proteína APO-E4, entre outras, em bloquear a ação Obviamente são experimentos que podem levar anos, mas que representam
das proteínas tóxicas. auspicioso progresso no combate à doença de Alzheimer.
O sistema de saúde precisa de mais patologistas clínicos
Nós da SBPC/ML estamos num esforço crescente para levar mais conhecimento sobre o
Dr. Fábio Vasconcellos Brazão, universo da patologia aos estudantes. Mas precisamos que as universidades, os professores,
presidente da SBPC/ML empresas do setor, também estejam mobilizadas. Não poderemos ficar sem patologistas clínicos,
pois seria um grande atraso na medicina brasileira. Hoje temos apenas 0,74 especialistas por
presidente@sbpc.org.br 100.000 habitantes. Um número baixo.
É necessário formar mais médicos capazes de atender a demanda dos novos exames e
tecnologias. É estratégico para área da saúde pública e privada que todos os profissionais da área
de saúde tenham conhecimento para lidar com os resultados dos exames laboratoriais, já que
No dia 31 de maio celebramos o dia do patologista clínico. Se de um lado, celebramos o desempenham importante papel na prevenção e diagnóstico.
crescimento do segmento, e toda sua crescente importância no cenário mundial de saúde, com E uma das áreas que mais avançam na medicina laboratorial são a biologia molecular e
novas tecnologias tornando os diagnósticos cada vez mais rápidos e precisos, por outro lado genômica, por isso se faz necessário seu aprofundamento nos programas de Residência Médica e
preocupamo-nos com o pequeno número de médicos formados. A Patologia Clínica ainda é Titulação de Especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. É o futuro que já chegou.
uma especialidade com poucos profissionais no Brasil. De acordo com a Demografia Médica no O diferencial da Patologia Clínica é poder interagir com todas as demais áreas da saúde,
Brasil 2023, é a décima especialidade menos frequente. agregando valor principalmente na prevenção, diagnóstico e prognóstico das doenças, via
Entre os registros de médicos especialistas, indivíduos titulados, e percentual de registros interface entre clínica e laboratório. Estima-se que existam no mundo 7.500 diferentes testes
secundários, segundo especialidades, em 2022, a especialidade tem apenas 1.617 profissionais diagnósticos disponíveis, entre rotina e pesquisa, no Laboratório Clínico. A medicina laboratorial
atuando em todo o país, o que corresponde a apenas 0,3% de toda a classe médica atuante. é uma área promissora, que vem se destacando pelos avanços nos métodos de diagnósticos e
Para efeito de comparação, trago o número de registros de médicos especialistas, segundo descoberta de biomarcadores de elevada acurácia.
especialidades, em 2022: Pediatria, 48.654 (9,8%); Cirurgia Geral, 41.547 (8,4 %); Ginecologia Portanto, precisamos de renovação. O laboratório é multidisciplinar e outros profissionais
e Obstetrícia 37.327 (7,5%); Anestesiologia, 29.358 (5,9%); e Ortopedia e Traumatologia 20.972 competentes também podem atuar na área. A tecnologia permitiu aumento da demanda e da
(4,2%). capilaridade. Os exames estão mais acessíveis e com maior acurácia diagnóstica. Os laboratórios
Outro fator que chama atenção é que dentre os profissionais atuando no segmento de de pequeno, médio e até alguns de grande porte estão sendo incorporados aos gigantes do setor.
Patologia Clínica e Medicina Laboratorial apenas 11 (0,8%) possuem menos de 35 anos e 1.087 As escolas médicas têm poucos especialistas dando aula e consequentemente o conhecimento e
(76,1%) já estão acima de 62,4 anos de idade, ou seja, até próximos de uma aposentadoria. E divulgação fica aquém do ideal para os futuros médicos.
dentre os alunos residentes em patologia clínica, temos apenas 25 alunos, sendo 18 no segundo A saúde precisa do patologista clínico porque ele é muito importante, seus conhecimentos da
e terceiro ano e apenas 8 alunos no primeiro ano. Apesar de ter havido aumento no número de medicina aliados aos aspectos técnicos do laboratório permite fazer a ponte entre o laboratório e
vagas na residência, o número de formandos não acompanha, mesmo neste cenário atual de a população. Com visão e formação privilegiada de processos, gestão, comunicação, assessoria
tantos médicos se formando e não conseguindo acessar com facilidade a residência médica. técnico-científica etc. Tudo para que os exames possam ser oferecidos dentro de um contexto
Esse cenário nos faz buscar mobilização. É urgente e mandatório que os estudantes de clínico individualizado, com base nas boas práticas laboratoriais, médicas e legais, assegurando o
Medicina e profissionais já formados em outros segmentos conheçam melhor as oportunidades bem-estar e a saúde do paciente. Evitar desperdício e gastos desnecessários é uma luta constante
da área, que ainda é pouco conhecida. Antigamente, como os laboratórios eram familiares, a do patologista clínico. Promovemos a saúde da população assegurando: exame certo, para o
especialidade era passada de pai pra filho. Hoje, com laboratórios maiores, isso se perdeu. paciente certo, na quantidade certa e no momento certo.
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