Page 14 - Jornal Labor News Versão Digital
P. 14

Opinião

                                  Alzheimer, a assombração dos idosos



                                                                           Ainda como terceira causa de ordem genética desta doença há a trissomia do
                              Prof. Dr. Paulo Cesar Naoum               cromossomo 21, frequente em pessoas com síndrome de Down.
                              Professor Titular pela UNESP                 Depois desta breve introdução, segue um resumo sobre informações importantes
                              Diretor da Academia de Ciência e Tecnologia,  para o conhecimento geral, e que certamente poderá auxiliar as pessoas a conhecerem
                              Acadêmico da ARLC                         melhor esta doença que está nos assombrando cada vez mais.
                              a.c.t@terra.com.br                           Importante saber:
                                                                           1) 80 a 90% desta doença ocorre em pessoas com idade acima de 65 anos e é
                                                                        conhecida por doença de Alzheimer senil; quase a totalidade destes casos se devem às
           A  doença  de  Alzheimer  foi  descoberta  no  início  do  século  20,  precisamente   causas adquiridas acima especificadas, e algo próximo de 5% à deficiência imune de
        em 1906, e somente passou a representar  preocupação  médica  e social quando   células que fagocitam as proteínas tóxicas.
        o contingente populacional  composto por idosos  começou a aumentar, elevando   2) 10 a 20% desta doença ocorre em pessoas com idade abaixo de 65 anos e é
        também  a  frequência  desta  doença.  Este  aumento  ocorreu  inicialmente  em  países   conhecida por doença de Alzheimer precoce; quase a totalidade destes casos se devem
        do primeiro mundo a partir dos anos 60, alertando os médicos para esta doença, e   às causas genéticas e cerca de 5% também se deve à deficiência imune.
        nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, sua importância médica e   Independentemente da idade, a doença de Alzheimer começa a ser percebida por
        social tomou corpo a partir dos anos 90. Hoje se sabe que a doença de Alzheimer é a   fases de alterações de comportamento e são classificadas em inicial, moderada, grave
        mais comum das demências neuro degenerativas, e se deve ao acúmulo de proteínas   e terminal, conforme se segue:
        tóxicas no cérebro. Estas proteínas vão se depositando gradualmente ao longo de vinte   -  Fase  inicial:  se  dá  quando  a  pessoa  tem  alterações  de  visão  de  cores  e  de
        anos, ou mais, no cérebro, interrompendo as transmissões de sinais biológicos entre   profundidade, perda de memória, e momentos de incapacidade de localização espacial.
        neurônios e dificultando comandos básicos como visão, comunicação e localização   - Fase moderada: se dá na sequência da fase acima e se manifesta por dificuldades
        espacial, entre outros.                                         em falar ou de se expressar, de planejar, de criar, e se acentua com a insônia.
           Por outro lado,  a  toxicidade  do  cérebro  também  se  deve  ao  acúmulo  dessas   -  Fase  grave:  ocorre  ao  longo  de  meses  ou  anos  após  a  fase  moderada  e  se
        proteínas  tóxicas  entre  os  vasos  sanguíneos  que  transportam  oxigênio  para  os   caracteriza por resistência e agressividade em aceitar tarefas comuns do dia-a-dia, por
        neurônios, “espremendo-os” e impedindo a oxigenação ideal destas células. Portanto,   exemplo, banho, diálogo e exercício físico, principalmente. Esta fase se acentua no
        a  diminuição  de  transmissão  de  sinais  entre  neurônios  e  o  seu  enfraquecimento   momento que o doente passa a ter dependência para higiene pessoal e alimentação.
        fisiológico  por  conta  da  baixa  oxigenação  é  provavelmente  a  causa  das  diversas   - Fase terminal: ocorre quando o doente se torna restrito ao leito, se recusa a falar
        alterações patológicas que vão se somando nesta doença com o passar do tempo desde   ou comunicar. Nesta fase o sistema imune se torna muito fraco principalmente por
        seu início.                                                     conta da alimentação desregulada e da diminuição do comando sensorial orgânico,
           Recentemente as pesquisas em neurobiologia estabeleceram três causas básicas.   culminando com constantes infecções que são as causadoras principais de óbitos.
        A primeira causa, portanto, a mais comum, atinge entre 80 e 90% das pessoas e   Até o momento não há medicações curativas para esta doença, destacando-se que
        é adquirida por hábitos não saudáveis (por exemplo: tabagismo) e situações   a prevenção ainda é o melhor caminho e deve ocorrer antes da quarta década através
        patológicas que causam lesões vasculares por longos períodos, por exemplo:   de hábitos e alimentação saudáveis.
        colesterol cronicamente elevado, doenças autoimunes, tromboses e diabetes não   Este  artigo  foi  redigido  durante  minha  recente  passagem  pela  Universidade
        controladas, principalmente. A segunda causa é de origem constitucional da pessoa,   de Cambridge, Inglaterra,  onde esta  doença  está sendo estudada  e discutida  com
        afeta 5 % dos casos de Alzheimer, e se deve à baixa imunidade crônica que atinge as   profundidade.  Uma  das  possíveis  possibilidades  que  está  sendo  pesquisada  aqui
        células que fagocitam as proteínas tóxicas do cérebro. A terceira causa é de origem   é a busca de drogas que possam limpar as proteínas tóxicas que afetam o cérebro,
        genética e é responsável também entre 10 e 20% dos doentes de Alzheimer por   impedindo a progressão da doença.
        diminuição da capacidade da proteína APO-E4, entre outras, em bloquear a ação   Obviamente  são experimentos  que podem levar anos, mas que representam
        das proteínas tóxicas.                                          auspicioso progresso no combate à doença de Alzheimer.

           O sistema de saúde precisa de mais patologistas clínicos





                                                                           Nós da SBPC/ML estamos num esforço crescente para levar mais conhecimento sobre o
                       Dr.  Fábio Vasconcellos Brazão,                  universo  da  patologia  aos  estudantes.  Mas  precisamos  que  as  universidades,  os  professores,
                       presidente da SBPC/ML                            empresas do setor, também estejam mobilizadas. Não poderemos ficar sem patologistas clínicos,
                                                                        pois seria um grande atraso na medicina brasileira.  Hoje temos apenas 0,74 especialistas por
                       presidente@sbpc.org.br                           100.000 habitantes. Um número baixo.
                                                                           É  necessário  formar  mais  médicos  capazes  de  atender  a  demanda  dos  novos  exames  e
                                                                        tecnologias. É estratégico para área da saúde pública e privada que todos os profissionais da área
                                                                        de saúde tenham conhecimento para lidar com os resultados dos exames laboratoriais, já que
           No dia 31 de maio celebramos o dia do patologista clínico. Se de um lado, celebramos o   desempenham importante papel na prevenção e diagnóstico.
        crescimento do segmento, e toda sua crescente importância no cenário mundial de saúde, com   E uma das áreas que mais avançam na medicina laboratorial são a biologia molecular e
        novas tecnologias tornando os diagnósticos cada vez mais rápidos e precisos, por outro lado   genômica, por isso se faz necessário seu aprofundamento nos programas de Residência Médica e
        preocupamo-nos com o pequeno número de médicos formados. A Patologia Clínica ainda é   Titulação de Especialista em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial. É o futuro que já chegou.
        uma especialidade com poucos profissionais no Brasil. De acordo com a Demografia Médica no   O diferencial da Patologia Clínica é poder interagir com todas as demais áreas da saúde,
        Brasil 2023, é a décima especialidade menos frequente.          agregando  valor  principalmente  na prevenção,  diagnóstico  e  prognóstico  das doenças,  via
           Entre os registros de médicos especialistas, indivíduos titulados, e percentual de registros   interface entre clínica e laboratório. Estima-se que existam no mundo 7.500 diferentes testes
        secundários, segundo especialidades, em 2022, a especialidade tem apenas 1.617 profissionais   diagnósticos disponíveis, entre rotina e pesquisa, no Laboratório Clínico. A medicina laboratorial
        atuando em todo o país, o que corresponde a apenas 0,3% de toda a classe médica atuante.   é uma área promissora, que vem se destacando pelos avanços nos métodos de diagnósticos e
        Para  efeito  de  comparação,  trago  o  número  de  registros  de  médicos  especialistas,  segundo   descoberta de biomarcadores de elevada acurácia.
        especialidades, em 2022: Pediatria, 48.654 (9,8%); Cirurgia Geral, 41.547 (8,4 %); Ginecologia   Portanto, precisamos de renovação. O laboratório é multidisciplinar e outros profissionais
        e Obstetrícia 37.327 (7,5%); Anestesiologia, 29.358 (5,9%); e Ortopedia e Traumatologia 20.972   competentes também podem atuar na área. A tecnologia permitiu aumento da demanda e da
        (4,2%).                                                         capilaridade. Os exames estão mais acessíveis e com maior acurácia diagnóstica. Os laboratórios
           Outro  fator  que  chama  atenção  é  que  dentre  os  profissionais  atuando  no  segmento  de   de pequeno, médio e até alguns de grande porte estão sendo incorporados aos gigantes do setor.
        Patologia Clínica e Medicina Laboratorial apenas 11 (0,8%) possuem menos de 35 anos e 1.087   As escolas médicas têm poucos especialistas dando aula e consequentemente o conhecimento e
        (76,1%) já estão acima de 62,4 anos de idade, ou seja, até próximos de uma aposentadoria.  E   divulgação fica aquém do ideal para os futuros médicos.
        dentre os alunos residentes em patologia clínica, temos apenas 25 alunos, sendo 18 no segundo   A saúde precisa do patologista clínico porque ele é muito importante, seus conhecimentos da
        e terceiro ano e apenas 8 alunos no primeiro ano. Apesar de ter havido aumento no número de   medicina aliados aos aspectos técnicos do laboratório permite fazer a ponte entre o laboratório e
        vagas na residência, o número de formandos não acompanha, mesmo neste cenário atual de   a população. Com visão e formação privilegiada de processos, gestão, comunicação, assessoria
        tantos médicos se formando e não conseguindo acessar com facilidade a residência médica.   técnico-científica  etc. Tudo para que os exames possam ser oferecidos dentro de um contexto
           Esse  cenário  nos  faz  buscar  mobilização.  É  urgente  e  mandatório  que  os  estudantes  de   clínico individualizado, com base nas boas práticas laboratoriais, médicas e legais, assegurando o
        Medicina e profissionais já formados em outros segmentos conheçam melhor as oportunidades   bem-estar e a saúde do paciente. Evitar desperdício e gastos desnecessários é uma luta constante
        da área, que ainda é pouco conhecida. Antigamente, como os laboratórios eram familiares, a   do patologista clínico. Promovemos a saúde da população assegurando: exame certo, para o
        especialidade era passada de pai pra filho. Hoje, com laboratórios maiores, isso se perdeu.  paciente certo, na quantidade certa e no momento certo.

                                                                                14
                                                                                14
   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18   19