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Opinião
DR. CARLOS EDUARDO DOS SANTOS FERREIRA
Presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial para o biênio
2020-2021
Gerente Médico do Departamento de Patologia Clínica. Laboratório Clínico - Sociedade
Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein
Coordenador Médico do Setor de Imunoquímica do Laboratório Central do Hospital São
Paulo - Escola Paulista de Medicina / Universidade Federal São Paulo (EPM/UNIFESP)
presidente@sbpc.org.br
A Importância Diagnóstica
Enquanto o mundo assistia incrédulo ao no governo e nas discussões científicas e populares árduo para conseguir prover mais testes de PCR
crescimento da maior pandemia de nossa geração, – disseminadas nas redes sociais. (reação em cadeia polimerase) em tempo real para
um cenário desafiador, incerto, mas também Desde o primeiro caso diagnosticado no país, a COVID 19 (teste padrão ouro na identificação do
muito oportuno; surgia para o setor da medicina até os dias de hoje com a pandemia em curso, os coronavírus). Parcerias público privadas, doações
diagnóstica. desafios são diários. A ampliação da capacidade de empresas, empréstimos, trocas, aquisições de
A nossa especialidade médica, já fundamental produtiva de testagem no país já se fez mandatória equipamentos e insumos; entre outras ações para
no diagnóstico, prevenção e estadiamento de logo no início da pandemia quando a demanda otimizar a nossa capacidade produtiva. Isto no
diversas doenças, se viu diante de um novo desafio: pelos testes explodiu em todas as regiões. Diante meio da maior guerra comercial por insumos e
o diagnóstico laboratorial da COVID 19. deste desafio, muitos médicos patologistas clínicos maquinários para este tipo de teste. E ressalto aqui
Elencados como essencial pela OMS – e profissionais da área da saúde que atuam mais uma vez o protagonismo dos laboratórios
Organização Mundial de Saúde, os testes específicos em diferentes laboratórios públicos e privados clínicos brasileiros que uniram esforços
para o Sars-Cov-2 ganharam notoriedade na mídia, espalhados pelo Brasil iniciaram um trabalho antecipadamente, mesmo quando o vírus ainda
não tinha chegado ao Brasil, para já se prepararem
para o enfrentamento dessa pandemia.
A mesma força tarefa ocorreu quando as
amostras recebidas pelo Governo de diferentes
estados começaram a ficar represadas em
filas para serem processadas. Novamente,
os laboratórios privados em parcerias com
os serviços públicos conseguiram unir seus
esforços para que as amostras pudessem
ser processadas e os resultados fossem
disponibilizados.
Apesar de todos os esforços, ainda não
conseguimos ofertar uma capacidade produtiva
para atender todo país. O trabalho continua Brasil
a fora para que a cada dia consigamos ampliar a
testagem visando um melhor dimensionamento
da pandemia em todo território nacional (estados,
cidades e bairros específicos). Nas últimas semanas
os testes sorológicos começaram a chegar ao país
para contribuir no diagnóstico, mas também
trouxe com ele muitos outros desafios. Entre eles:
avaliação de qualidade dos diferentes kits e testes
rápidos, fluxo de coleta e processamento destes
testes, regulações e toda a discussão do melhor
momento para a coleta e a correta interpretação
destes testes.
A nossa especialidade está buscando
aprendizados no curso desta crise. Conseguimos
mostrar a nossa força e reforçar o que sempre
acreditamos. Diagnosticar corretamente, com
segurança e salva vidas. E no caso do novo
Coronavírus, o diagnóstico não se limita apenas
ao uso médico, essencial, que define o tratamento.
Mas neste caso é ainda mais amplo, ele pode
definir diferentes estratégias de enfrentamento
da doença e de isolamento social no país.
Se hoje temos mais de 200 mil infectados
no país, certamente este número ainda deve
ser muito maior devido a baixa capacidade de
testagem, que ainda é nossa realidade, apesar
de todos os esforços que estão sendo feitos e
que já foram colocados aqui. Vale a ressalva
que não são subnotificações, mas sim, muitos
casos sub diagnosticados. Muitos pacientes
que estão entrando em contato com o vírus
ou entraram em contato com o vírus e já estão
curados não foram testados. Em um país com
a nossa dimensão e com mais de 200 milhões
de habitantes, a circulação do vírus ainda é
relativamente pequena e estratégias para a
ampliação da testagem no país com avalições em
grupos amostrais pode ser uma boa estratégia
para melhor entendimento do nosso momento.
E com isso conseguiremos usar de forma
inteligente os recursos disponíveis.
O exame correto é aquele realizado no paciente
certo, no momento certo, da forma certa e com o
resultado certo.
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