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Covid-19
Entendendo os testes diagnósticos para Covid-19
lavagem broncoalveolar e lavagem/aspirado nasal ou soroconversão de IgM, embora possa ocorrer a partir
aspirado nasofaríngeo. do 5º dia do início da sintomatologia, pois as respostas
O RT-PCR é o teste recomendado pela OMS para o imunológicas variam entre indivíduos, ela é melhor
diagnóstico e monitoração de indivíduos com infecções medida a partir do 10º dia do início dos sintomas, e
ativas. O RNA viral torna-se detectável desde o primeiro da IgG a partir do 14º dia. Além disso, há aumento nos
dia dos sintomas e seu pico ocorre na primeira semana níveis médios de anticorpos, especialmente de IgG, ao
dos sintomas (1). O declínio da carga viral começa longo das semanas, com diminuição progressiva da
a ocorrer a partir do 10º ao 11º dia do início da IgM e a persistência da IgG nos casos que evoluem
sintomatologia, mas ainda pode ser detectada até o 28º satisfatoriamente.
dia do início dos sintomas em pacientes recuperados Os testes sorológicos atualmente em uso são:
(2). Ressalta-se que alguns estudos mostram que a 2.a. QUANTITATIVOS
carga viral detectada a mais de 20 dias ocorreu em um São os utilizados dentro do laboratório, como
terço dos pacientes, sendo que a detecção prolongada os testes de quimioluminescência e ELISA, os quais
representa um desafio para as limitadas instalações requerem equipamentos específicos e profissionais
Dr. Wagner Maricondi – médico patologista clínico de isolamento hospitalar, uma vez que os pacientes qualificados para sua execução. A vantagem desses
e fundador da WAMA Diagnóstica
podem não receber alta até o RNA viral se tornar testes é a possibilidade de automação, podendo
Os testes diagnósticos para identificar a presença indetectável. Entretanto, ainda não se sabe se esses realizar grandes demandas. A maioria deles tem
do SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19, foram pacientes continuam eliminando vírus vivos, já que a demonstrado muito boa performance.
desenvolvidos em tempo recorde em virtude da soropositividade concomitante pode caracterizar que os 2.b. QUALITATIVOS
urgência imposta pela pandemia, a qual continua virions estão revestidos com anticorpos do hospedeiro, Esses testes são conhecidos como testes rápido, teste
crescendo a taxas alarmantes e causando grande tornando-os não infecciosos (3). rápido de diagnóstico (RDT), lateral flow e point of care
número de óbitos. Há um grande esforço conjunto para 2. TESTES SOROLÓGICOS (POC). Eles são fáceis de realizar, podem ser processados
controlá-la, havendo, em muitos países escassez de Os testes sorológicos que identificam anticorpos fora do laboratório, não requerem instrumentos de
recursos, o que prioriza o estabelecimento de estratégias IgM e IgG tem ganhado cada vez mais a atenção em sua leitura e os resultados são obtidos em 15 minutos. Esses
assertivas, tomando como referência os países que utilização pelo seu vantajoso tempo de resposta mais testes podem ser realizados com leitura visual, através
passaram previamente por situações semelhantes e que rápido, menor carga de trabalho e alto rendimento, uma de cor, ou com o uso de um aparelho portátil de leitura,
conseguiram desacelerar o crescimento da pandemia vez que são menos complexos que os testes moleculares. os quais costumam ser de fluorescência.
através de uma vigilância intensiva e na identificação No entanto, o valor clínico dos anticorpos depende, Os testes qualitativos pesquisam anticorpos
e isolamento dos portadores da doença, bem como de em grande parte, da compreensão das respostas do IgM e IgG ou o antígeno viral. Este último tem baixa
seus contatos com indivíduos suscetíveis. hospedeiro à infecção. Assim, a sua interpretação deve sensibilidade (60%), a qual é dependente de alta
Estar ciente que um teste é adequado para um ser cuidadosa, uma vez que a dinâmica dos anticorpos carga viral (5).
determinado uso (como vigilância epidemiológica), IgM e IgG são variáveis e, consequentemente, a janela da ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE OS TESTES
mas pode ser completamente inadequado para outro soroconversão pode ser longa (4). DIAGNÓSTICO PARA COVID-19
(como rastreamento de pacientes sintomáticos) é Apesar da necessidade de maior conhecimento da 1. Embora a RT-PCR seja o teste de escolha
fundamental para a análise de seus resultados, para sua resposta imune do hospedeiro e das variações desta nos pacientes sintomáticos e nos critérios de alta,
correta aplicação e interpretação. Portanto, os testes com a quantidade da carga viral, o conhecimento até sua sensibilidade não é totalmente satisfatória,
de amplificação de ácido nucleico seriam indicados agora obtido em relação a cinética da resposta dos principalmente quando a amostra é obtida do trato
no rastreamento de pacientes sintomáticos, enquanto anticorpos IgM e IgG específicos nos pacientes com respiratório superior (6,7), uma vez que falsos
a detecção de anticorpos derivados do hospedeiro COVID-19, auxiliam na interpretação cuidadosa dos negativos podem ocorrer pelo momento inadequado
direcionados contra o SARS-CoV-2 é crucial para a testes sorológicos. da coleta da amostra em relação ao início da doença
vigilância epidemiológica, previsão de epidemias e É bem conhecido que toda resposta de anticorpos e por deficiência na técnica da coleta, especialmente
determinação da “imunidade” à COVID-19. acontece a partir da invasão do organismo por um nos swabs do naso e orofaríngeo, bem como pela
TESTES DIAGNÓSTICOS UTILIZADOS agente infeccioso. Isso demanda um tempo até que localização anatômica da amostra a ser coletada,
1. RT-PCR EM TEMPO REAL esses anticorpos específicos possam ser detectados afetando a sensibilidade dos testes de RT-PCR (8).
O RT-PCR é caracterizado pelo isolamento e pelas várias metodologias sorológicas disponíveis. A Estudos mostram que a positividade do teste de RT-
purificação do RNA viral das amostras do trato esse tempo damos o nome de janela sorológica. PCR foi maior em amostras de lavado broncoalveolar
respiratório superior e inferior, o qual é transcrito Portanto, na COVID-19, em pacientes não graves, (93%), seguidas de escarro (72%), swab
reversamente para cDNA e subsequentemente o anticorpo IgM, cuja presença é característica da nasofaríngeos (63%) e swab orofaríngeos (32%) (9).
amplificado no Instrumento de PCR em tempo real. infecção recente, começa a aumentar a partir do início 2. A associação da RT-PCR com o teste sorológico
As amostras respiratórias superiores e inferiores da infecção e atinge seu pico na segunda semana pode melhorar a detecção de casos, com sensibilidade
são obtidas através de swabs nasofaríngeos ou do início dos sintomas. Por outro lado, o anticorpo e especificidade próximas a 100%, quando realizadas
orofaríngeos, escarro, aspirados do trato respiratório, IgG continua a aumentar na terceira semana. A por 7 ou mais dias a partir do início dos sintomas (10).
3. Nos 7 primeiros dias da sintomatologia, o teste
de RNA apresenta maior sensibilidade (66,7%),
enquanto os testes de anticorpos mostraram taxas de
positividade de 38,3%. Entretanto, a partir do 8º dia,
a taxa de sensibilidade dos anticorpos é superior às
do teste de RNA, bem como do 15º ao 39º dia o RNA é
detectável em apenas 45,5% das amostras, enquanto
a presença de anticorpos é próxima de 100% (10).
4. Na prática de saúde pública, a análise sorológica
pode ser útil para a rápida identificação de casos e
a subsequente cadeia de eventos para identificar
ativamente contatos próximos, recomendar quarentena
e estabelecer grupos de acordo com os resultados.
5. A utilização dos testes de pesquisa de anticorpos é
bastante útil na identificação de pacientes portadores da
COVID-19, não só em sua aplicação junto com a RT-PCR
nos pacientes sintomáticos, como também nos pacientes
com doença leve a moderada ou assintomáticos, desde
que respeitado o tempo para que os níveis de anticorpos
sejam suficientes para serem detectados pelo teste, ou
seja, a partir da segunda semana.
6. A pesquisa de anticorpos vem se tornando
ferramenta importante para entender a extensão
da COVID-19 na comunidade e para identificar
indivíduos imunes e potencialmente “protegidos” de
serem reinfectados.
BIBLIOGRAFIA
1. Jeremiah, S.S., JAMA, May 6, 2020
2. Grzelak, L. et al., medRxiv, April 24, 2020, Institut Pasteur, Paris, France
3. Kai-Wang To, K., Lancet Infect Dis, 20: 565–74, 2020
4. Lou, B. et al., medRxiv preprint, March 27, 2020
5. Jacobs, J., TLM_RD_038 v1.3, 30/04/2020
6. Yang, Y.et al., medRxiv, Feb.17, 2020
7. Zhang, W. et al., Emerg Microbes Infect, 9(1): 386-389, 2020
8. Zou, L. et al., N Engl J Med, March 19, 2020
9. Wang, W. JAMA, March 11, 2020
10. Zhao J et al., Clin Infect Dis., April, 2020
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